Quando o assassino de Martin Luther King se escondeu em Lisboa

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8 de Maio de 1968. Um americano de 40 anos, que dá pelo nome de Ramon George Sneyd, entra no Texas Bar, situado na Rua Nova do Carvalho – no local onde se encontra agora a discoteca Music Box – e senta-se ao balcão. Aí, aborda Maria, de 25 anos, uma das muitas prostitutas que procuram trabalho para a noite: “ele sentou-se ao balcão e escolheu-me a mim, de tantas que lá estavam”. Num misto de inglês e espanhol, ambos acordam o preço: 300 escudos. À entrada do bar, o porteiro Gomes distribui preservativos da marca Texas aos clientes que saírem com uma prostituta – aparentemente, Ramon é um deles. Dali seguem para uma pensão perto da Calçada da Glória e, depois, para o Hotel Portugal, perto do Martim Moniz, onde passam a noite juntos e combinam ir à praia no dia seguinte:

“Quando saímos, passámos por uma loja e eu parei ao pé da montra, para ver um fato de banho branquinho. Ele disse: ‘You like?’ Respondi que sim, ele comprou-me o fato de banho e disse que íamos para a praia no dia a seguir: ‘Beach, por la mañana’. Gostei dele. Era bonito de cara, um pedaço de homem.”

Mas, na manhã seguinte, Ramon manda dizer pelo concierge do hotel que deixou o país. Na verdade, o americano permanece em Lisboa, frequentando vários bares da capital, como o Europa e o Maxime. Um dia, decide procurar um navio para Angola, para se juntar aos mercenários brancos em África. Mas é demasiado tarde para tratar do visto e Ramon desiste e resolve rumar a Londres, com destino a Bruxelas. Onze dias depois de ter chegado a Lisboa, a 8 de Junho de 1968, James Earl Ray – o seu verdadeiro nome – é preso no aeroporto de Heathrow pelo assassínio do activista Martin Luther King.

Em Portugal, os jornais prestam pouca atenção ao acontecimento, mas o New York Times, no mesmo mês, entrevista Maria. E um repórter da revista Life fotografa-a em frente ao Texas Bar – foto que haveria de ser, por momentos, mundialmente famosa.